Está tudo preparado para a Copa. Bandeiras verde e amarelo
hasteadas, flâmulas penduradas, cardápio especial com quitutes bem
brasileiros, um balcão separado para fazer especialmente caipirinha e o
telão gigante recém-instalado para transmitir todos os jogos. O clima
seria perfeito para torcer pelo Brasil não fosse um pequeno detalhe:
estamos em Buenos Aires.
No coração do bairro mais boêmio da
capital argentina, uma brasileira ousou abrir um boteco que leva Brasil
no nome, no cardápio, na música e na decoração. E espera receber "todos
os argentinos que quiserem torcer pelo Brasil" nos dias de Copa do Mundo
com muito samba e MPB. "Estou procurando até uma passista para fazer
show aqui nos dias de jogo", diz Leila Nunes de Melo, paulista da cidade
do Guarujá, uma das donas do bar.
Do Guarujá para Buenos Aires
O "Boteco do Brasil", que há 10 meses está aberto em Palermo Hollywood,
é quase um território brasileiro em solo argentino. E sua dona é uma
brasileira quase argentina que já fala misturando o português com o
espanhol. Leila está em Buenos Aires há 20 anos, mudou de país para
acompanhar o marido argentino, com quem tem uma filha nascida no
Guarujá, mas criada desde os 8 meses no país vizinho. "O marido já se
foi, nos separamos, mas adotei a Argentina como meu país", diz ela. "Mas
ainda torço – e muito – pelo Brasil, principalmente em Copa do Mundo."
E é por isso que resolveu investir para receber melhor e de maneira
diferente quem quiser torcer pelo Brasil com ela, em solo argentino.
Além de um telão gigante que vai transmitir todos os jogos da Copa – e
os jogos do Brasil por meio de algum canal brasileiro para ter locução
em português -, o bar vai ter um balcão especial que vai preparar
caipirinhas e shows de música brasileira para animar os torcedores.
Arroz, feijão e ovo frito
Mesmo em dias normais, esse pedaço de Brasil em Buenos Aires já tem
pratos executivos com feijão e arroz com ovo frito, farofa e picadinho
no cardápio. Além de, é claro, uma boa feijoada que Leila admite que tem
que adaptar porque não encontra todos os ingredientes para comprar na
Argentina, e mais coxinha, isca e bolinho de peixe, entre outras coisas.
"Tem muito argentino que vem comer aqui porque já experimentou a comida
no Brasil e gostou", conta. "E eles vêm também pela música. Temos
sempre alguém cantando MPB ou roda de samba."
Além dos
argentinos amantes da nossa comida e música, há também muitos
brasileiros que vivem na Argentina e que aparecem para matar as saudades
do tempero da mãe. "Os europeus, principalmente franceses, também vêm
muito, aliás uma das minhas sócias é francesa, eles adoram o Brasil",
diz Leila.
Ser brasileira é charmoso
Amanda de Melo, filha de Leila, tem 20 anos e apesar de ter nascido no
Brasil, é uma argentina autêntica. Ela compreende e até fala português,
mas a sua língua é mesmo o espanhol. Amanda tem sotaque argentino, corte
de cabelo argentino, veste-se como as argentinas, mas não nega a sua
nacionalidade jamais. "Sou brasileira e sempre serei, nasci no Brasil e
sempre digo isso a todos. Além de ter orgulho, claro, dá um certo charme
dizer que sou brasileira", diz.
Mãe e filha já não têm muitas
raízes no Brasil e só viajam ao país vez ou outra, em férias, mas não
perdem o contato com os brasileiros por causa do bar. "Um dos motivos
que me levou a abrir o bar foi para ter contato com a comunidade
brasileira na Argentina, sentia muito a falta disso", conta Leila. "Nós
nos divertimos muito aqui e isso é o que importa."
Argentino também faz coxinha
Há 12 anos, o argentino de Mendoza Horácio Tordya (54), dono do
restaurante "Me leva Brasil", também no bairro de Palermo, serve comida
brasileira, principalmente quitutes baianos, como o acarajé. Mas ele diz
que já houve mais brasileiros na Argentina do que agora. "Mesmo assim
ainda recebo brasileiros, mas são menos e com mais dinheiro. A melhor
época foi de 2009 até 2012", diz.
O restaurante de Todya também
vai passar todos os jogos do Brasil em um telão, mas ele não preparou
nada especial para a Copa ainda porque está em dúvida sobre o movimento.
"Recebo muitos argentinos e estrangeiros que vêm comer cozinha,
empadinha, pão de queijo e acarajé, mas vou esperar o movimento dos
primeiros jogos para ver se justifica uma programação diferenciada, como
já fizemos em outras Copas."
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