A dupla derrota na Justiça mostra o medo que o prefeito e os vereadores têm da CPI do Diga Diga - Bahia Expresso

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terça-feira, 23 de setembro de 2025

A dupla derrota na Justiça mostra o medo que o prefeito e os vereadores têm da CPI do Diga Diga

Prefeito de Itapetinga Eduardo Hagge e seus vereadores perdem novamente na Justiça e mostram medo de CPI.



Em Itapetinga, o roteiro parece saído diretamente de uma novela das nove, mas sem trilha sonora, sem final feliz e com personagens que se escondem por trás de cortinas de fumaça. O que começou como um rumor de bastidor virou um vendaval político que agora ameaça varrer os tapetes do poder municipal. E, no centro da tempestade, uma CPI que, a cada dia, se mostra mais temida por quem deveria prezar pela transparência.
A Justiça falou não uma, mas duas vezes, e foi clara: a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a tentativa de cassação do vereador Diego Rodrigues, o Diga Diga (PSD), deve ser instalada. Não cabe ao presidente da Câmara, Luciano Almeida (MDB), decidir o que é ou não relevante investigar. Essa avaliação pertence à comissão, não ao senhor presidente. Mas, ainda assim, ele tentou. E tentou de novo. Foi ao Tribunal de Justiça da Bahia com justificativas frágeis, quase constrangedoras, alegando que a instalação seria competência da Mesa Diretora, e não sua quando até calouro de Ciência Política sabe que, conforme o Supremo Tribunal Federal, basta a vontade de um terço da Casa para instalar uma CPI.
A insistência de Luciano em barrar o que é direito da minoria não é ingenuidade. É medo. Medo do que a CPI pode escancarar. Medo de que a verdade venha à tona e revele nomes inclusive de aliados próximos, talvez até de si mesmo. Porque há algo de podre no reino de Itapetinga, e a tentativa desesperada de enterrar a CPI revela o tamanho da podridão.
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O enredo ganha contornos de drama político-policial quando um suposto ofício, sem assinatura, mas com carimbo de protocolo do Palácio de Ondina, aparece pedindo ao governador Jerônimo Rodrigues (PT) que interfira no julgamento de Diga Diga no TSE. Um pedido absurdo, ilegal e segundo o texto do ofício feito em nome do prefeito Eduardo Hagge (MDB).
Eduardo, claro, nega. Diz que não sabe de nada, que não viu nada, que não mandou nada. Mas a Procuradoria Geral do Estado só respondeu ao pedido porque havia, segundo fontes do próprio governo da Bahia, “outra autoridade por trás do pedido”. E quem mais teria interesse direto na queda de Diga Diga?
Não é coincidência que o suplente direto de Diga Diga seja Valdeir Chagas (PSD), ex-opositor convertido à base do prefeito. Nem que haja rumores de que a movimentação visava abrir caminho para a eleição de Tiquinho Nogueira (PSD) como novo presidente da Câmara, um nome palatável aos interesses da Prefeitura de Eduardo Hagge. Política tem timing, e o de Eduardo parecia calculado. Só que a conta não fechou.
O desembargador Ricardo Régis Dourado, da 5ª Câmara Cível do TJ-BA, derrubou qualquer argumento usado por Luciano Almeida para frear a CPI. Reafirmou o que o STF já bateu o martelo: havendo um terço das assinaturas, fato determinado e prazo definido, a instalação da CPI é obrigatória. Ponto. A função do presidente da Câmara é dar andamento, não engavetar.
Mas é exatamente isso que Luciano tentou fazer, engavetar a investigação. E aqui mora a pergunta que precisa ecoar mais alto: por quê?
Por que tanto medo da CPI? Por que a Câmara tenta a todo custo impedir que se investigue a origem de um ofício que pede a um governador para interferir em uma decisão da Justiça Eleitoral? O que há para esconder?
Nos bastidores, o clima é de tensão. Vereadores da base governista murmuram em voz baixa, temendo ser os próximos alvos. Um deles, sob anonimato, desabafou: “Se fizeram isso com Diga Diga, quem garante que não farão comigo?”
O episódio já passou do limite do aceitável. Trata-se, possivelmente, de uso indevido de influência política, tentativa de coação no curso de processo judicial, um crime, e não só um erro de estratégia. Se for comprovado que Eduardo Hagge participou da redação ou envio do ofício, poderá responder formalmente. Mas mesmo que escape judicialmente, o desgaste político já está consumado.
Não há como limpar essa mancha com nota de repúdio ou coletiva ensaiada. A base de apoio já mostra rachaduras visíveis, e a confiança pública despenca junto com cada nova revelação.
A instalação da CPI deixou de ser apenas um ato administrativo. Tornou-se um divisor de águas. De um lado, quem quer esclarecer. Do outro, quem quer esconder. E hoje, infelizmente, está claro quem tem mais a perder com a verdade.
Itapetinga merece saber. A cidade merece ouvir com clareza quem escreveu aquele ofício, quem deixou chegar a Ondina, quem tentou usar o poder do Estado para eliminar um adversário político e emplacar um aliado.
A pergunta já não é mais “se” houve uma trama. A pergunta agora é: quem está por trás dela?
E a CPI, se o medo não enterrá-la de vez, tem o dever de responder.

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