O deputado federal Bacelar (PV) analisou, em entrevista à Tribuna, o atual cenário político baiano e nacional
Por Guilherme Reis, Mateus Soares e Paulo Roberto Sampaio
Com as eleições de 2026 se aproximando, o deputado federal Bacelar (PV) analisou, em entrevista à Tribuna, o atual cenário político baiano e nacional. Ele defende a reeleição do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e garantiu que o grupo liderado pelo PT segue unido, forte e com nomes de peso para a próxima disputa.
Segundo ele, a força de Jerônimo está refletida na presença do governador em todas as regiões da Bahia e no reconhecimento da população. Sobre a formação da chapa governista para 2026, Bacelar adiantou que a definição será feita em junho do próximo ano e minimizou uma possível disputa interna pelas vagas ao Senado e à vice.
Na entrevista, Bacelar também fez duras críticas à atuação do Congresso Nacional nas pautas ambientais, que classificou como “uma tragédia”, e defendeu a ministra Marina Silva, apesar das dificuldades enfrentadas à frente da pasta.
O deputado também criticou a tentativa do Congresso de anular o decreto presidencial que reduzia o IOF sobre investimentos e defendeu a ida do Executivo ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Na avaliação de Bacelar, a articulação política do governo tem enfrentado desafios por causa da composição do Congresso, mas ele elogiou a liderança de Lula e os avanços obtidos mesmo em minoria.
Tribuna – O senhor tem se dedicado a pautas ambientais, inclusive com discursos a respeito do assunto. Quais são os maiores desafios do meio ambiente na Bahia e no Brasil?
Bacelar – A nova lei de licenciamento ambiental, que foi aprovada na Câmara, emendada no Senado e retornou para a Câmara, é um retrocesso perigosíssimo. Em um país onde temos uma cultura do “primeiro eu, primeiro eu”, como é que se vai conceder um autolicenciamento? Entra na cabeça de alguém uma mineradora se autolicenciar? Esse é o grande desafio que se coloca para o meio ambiente brasileiro. Essa é uma lei que não pode passar. Nós temos que mobilizar a sociedade. E, se levarmos em consideração ainda a desregulamentação e a desestruturação dos órgãos ambientais ocorridas no governo Bolsonaro, a aprovação dessa lei representa um retrocesso e um perigo muito grande para o Brasil.
Tribuna – E na Bahia
Bacelar - Na Bahia, podemos citar dois grandes problemas. Primeiro: temos, no extremo norte do estado, a primeira área desértica do Brasil. Não é semiárido, é árido. O Brasil tem deserto, e ele se encontra no extremo norte da Bahia e no extremo sul de Pernambuco — uma área de cerca de 6 mil quilômetros quadrados que, na Bahia, envolve parte dos municípios de Juazeiro, Curaçá, Abaré, Chorrochó, Rodelas e Macururé. Esse é um grande problema. São áreas que precisam de intervenção urgente. A população não está morrendo de sede porque migra para os centros urbanos, mas há animais morrendo de sede. Esse é um grave problema na Bahia, além da questão do semiárido, que também é preocupante — mas esse caso, especificamente, é de extrema gravidade.
Tribuna – Como o senhor enxerga a atuação dos governos estadual e federal na mitigação desses problemas?
Bacelar – O governo Jerônimo está construindo barragens, fornecendo cestas básicas, alimentação para os animais, fortalecendo o trabalho das prefeituras. Mas aqui é preciso fazer mais — e eu já tenho um projeto nesse sentido na Câmara dos Deputados. Nessa região, em termos emergenciais, é preciso fazer o que foi feito no Rio Grande do Sul. No Sul foi enchente; aqui, é seca, é deserto. Mas, em caráter emergencial, precisamos antecipar os benefícios, dar um respiro às prefeituras, flexibilizar a questão da contribuição previdenciária, agilizar os processos no INSS. São ações urgentes. E temos também uma questão estrutural, que é o enfrentamento da crise climática. Já na zona urbana, enfrentamos um grave problema em Salvador. A capital é uma das cidades brasileiras com menos árvores. Salvador vive hoje uma pandemia de concreto para todos os lados: destruição de áreas verdes, destruição da Mata Atlântica, ausência de plantio de árvores. Enquanto cidades ao redor do mundo estão retirando o asfalto, em Salvador há cada vez mais concreto. Por coincidência, vi recentemente um levantamento do IBGE: Salvador é a capital em que as escolas têm menos áreas verdes no Brasil. Esses são enfrentamentos urgentes.
Tribuna – Como o senhor avalia a atuação da ministra Marina Silva?
Bacelar – Infelizmente, temos uma composição retrógrada no Congresso brasileiro. É um Congresso que não trata a questão ambiental como prioridade — prova disso são os projetos de lei aprovados nesta legislatura: destruição da Mata Atlântica, diminuição da Amazônia, incentivo ao uso de agrotóxicos. A pauta ambientalista no Congresso brasileiro tem sido uma tragédia. E a ministra Marina… isso não se reverte em quatro anos — e ela ainda nem teve esse tempo. A ministra é um ícone da luta ambiental, uma referência mundial, e tem enfrentado muitas dificuldades. Encontrou um Ibama totalmente desestruturado, sem funcionários. O Congresso tem flexibilizado o pagamento de taxas por crimes ambientais. Essa é uma questão que precisa ser enfrentada por toda a sociedade, e não apenas por uma autoridade pública — por mais importante e bem-intencionada que ela seja.
Tribuna – O senhor é a favor ou contra a exploração de petróleo na foz do Amazonas?
Bacelar – Nós temos que ter pragmatismo nesse debate. Nenhum país do mundo abriu mão de seus combustíveis fósseis. Nenhum. Precisamos de um estudo — que está sendo feito — sobre o impacto ambiental disso. Temos que ter muito cuidado, mas é impossível que o Brasil, um país pobre, um país de terceiro mundo, abdique de uma riqueza como essa.
Tribuna – Saindo da pauta ambiental, um outro assunto que tem gerado muitas discussões é a derrubada do aumento do IOF. Como o senhor vê essa questão e também sobre a judicialização do governo no STF?
Bacelar – Votei contra a urgência, votei contra o mérito. Foi uma decisão inconstitucional do Congresso, porque essa é uma prerrogativa do Executivo. O Congresso invadiu as atribuições do Executivo. Concordo: quando o Legislativo e o Executivo não se entendem, o caminho é o Judiciário. Quem primeiro judicializou essa questão foi a oposição, que foi ao STF contra o decreto. E agora o Executivo não pode seguir o mesmo caminho? Essa é outra característica brasileira: somos a favor da lei quando ela protege os nossos interesses. Quando a lei não nos favorece, aí nos colocamos contra ela. A oposição diz que é a favor da liberdade de expressão — mas só para ela, e contra para o outro lado. Acho que o presidente da República fez a coisa certa, civilizada e democrática. Nós não concordamos com uma decisão do Legislativo. Não estamos defendendo um golpe de Estado — isso, sim, seria deplorável. Estamos dentro do Estado Democrático de Direito, seguindo as regras desse Estado. O presidente tomou o caminho certo. O país precisa de justiça tributária. Os ricos no Brasil não pagam imposto. É justo que o dono de uma grande empresa pague, proporcionalmente, menos imposto de renda do que uma professora? Isso é uma distorção. É um vulcão prestes a explodir. E a mobilização nas ruas está correta. Tanto está correta que a aprovação do presidente da República cresceu. Quando o povo cobra seus representantes, isso assusta? A rebelião da senzala assusta a Casa-Grande? O Jornal Nacional fez um editorial de dez minutos de indignidade, destacando os radicais do Congresso. Volto a dizer: a senzala assusta a Casa-Grande.
Tribuna – Como está o diálogo do governo com o Congresso? O senhor acha que melhorou com a entrada de Gleisi Hoffmann na articulação política ou ainda precisa ser ajustado?
Bacelar – Nós temos a nossa base, a base raiz, com cerca de 100 deputados em um Congresso de 513. Somos minoria. O povo elegeu Lula, mas também elegeu um Congresso ultraconservador, um Congresso de direita. Então, não é fácil essa articulação política. Ainda assim, temos avançado — e isso é fruto de articulação política, é fruto do presidente, que é um político de marca maior. O governo tem conseguido aprovar 80% de suas matérias. Mas também temos derrotas. Não dá para ter apenas triunfos. Isso faz parte da democracia. E o presidente enfrenta e administra essas situações. Volto a dizer: o presidente não defende golpe, não defende Forças Armadas nas ruas, não defende o fechamento do Congresso. Estamos em um regime democrático. Às vezes vencemos aqui, perdemos ali. Por necessidade, governamos com quem foi contra a gente na eleição. Então, é preciso fazer concessões.
Tribuna – Sobre 2026, o senhor acredita que o presidente Lula vai forte para conseguir a reeleição? E no lado do bolsonarismo, há algum nome que possa ter competitividade?
Bacelar – Não tenho dúvidas: o nosso presidente é um estadista. É um homem testado e aprovado, que conhece os problemas do país, respeitado internacionalmente — presidente do Mercosul, presidente do Brics. Tem programas sociais, e assumimos um país destruído, aos frangalhos, sem um programa de governo. Agora temos a economia crescendo, superando expectativas, com pleno emprego e programas sociais funcionando. Está aí o Pé de Meia, a expansão do BPC, do Bolsa Família, do Minha Casa Minha Vida, a construção de institutos federais de educação por todo o país. Reconstruímos a educação, que havia sido totalmente destruída, e a saúde está no caminho certo. Agora, a narrativa ainda está vencendo a realidade. Pode ser por causa da inflação dos alimentos. Pode ser que os brasileiros tenham se acostumado com os programas sociais e, por isso, não consigam valorizá-los como deveriam. Mas volto a dizer: estamos perdendo para as narrativas. E acredito que vamos recuperar isso — acho o Lula imbatível. Quanto ao candidato da direita, eles nem sequer se entendem. São candidaturas paroquiais. O único nome que têm é o do ex-presidente Bolsonaro, que está inelegível. Há o governador do Rio Grande do Sul [Eduardo Leite], que só o Rio Grande do Sul conhece. O governador de Goiás [Ronaldo Caiado], que só Goiás conhece. E há um em São Paulo [Tarcísio de Freitas] com um estilo bem paulista de olhar apenas para o próprio umbigo. Então, não vejo perigo em uma candidatura contra Lula. É claro que toda eleição é difícil — especialmente em um país polarizado como é a sociedade brasileira.
Tribuna – Na Bahia, o governador está se pavimentando para tentar a reeleição no ano que vem. O PT, inclusive, tem defendido uma chapa puro-sangue. Como o senhor avalia essa estratégia e a força de Jerônimo em 2026?
Bacelar – Primeiro, é a força do nosso grupo político. Nosso grupo é fortíssimo. Não é um grupo de um líder só — é um grupo que reúne forças políticas como PT, PSD, PCdoB, PSB, PV, PDT, Podemos. O centro e a esquerda estão com a gente. O que sobrou para o outro lado? De um lado, temos um governador que trabalha 24 horas por dia, que percorre o estado, que conversa, que aproximou o governo do povo. Um governador com uma agenda de trabalho extraordinária. Veja o São João — vamos pegar o São João como exemplo. O governador visitava quatro ou cinco municípios por dia. Nosso adversário [ACM Neto] só foi a três municípios. Veja os prefeitos da oposição vindo apoiar a gente, porque reconhecem a importância do governo, reconhecem a liderança democrática, empática, simpática e popular que é o governador Jerônimo Rodrigues.
Tribuna – E quanto à chapa?
Bacelar - Quanto à chapa, ela será decidida em junho do próximo ano. Temos muitos nomes. O nome do atual governador, que é consenso, ninguém discute. E temos mais três vagas a serem disputadas, que precisarão ser definidas entre PT, PSD, MDB. Vamos chegar a um acordo. Agora, aqui tem democracia. Aqui todo mundo opina. Então essa construção não é simples — é complexa, envolve diversos aspectos. Mas estamos unidos. E estamos unidos porque a Bahia, desde Jaques Wagner, passando por Rui Costa e agora com Jerônimo, tem se desenvolvido. A Bahia tem crescido, tem se ampliado. Veja agora: inauguramos a fábrica da BYD, que vai ser uma revolução na Bahia. Temos obras, temos apoio do governo federal. O presidente Lula tem um olhar especial para os baianos. Temos grandes nomes. Imagine um grupo político que tem Jaques Wagner, Rui Costa, Angelo Coronel, Lídice da Mata e tantos outros. Todos os partidos têm nomes à altura para os diversos cargos em disputa — inclusive o próprio vice-governador Geraldo Júnior. Enquanto isso, o outro lado vive no desespero. O que fazem são ataques infundados, sem apresentar soluções para os problemas da Bahia.
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