Por Danillo Oliveira
Com a chegada do mês de junho, o Nordeste se veste de festa. As cidades se enfeitam com bandeirolas, o cheiro de milho assado invade o ar e o povo se prepara para celebrar uma das manifestações culturais mais autênticas do Brasil: o São João. No entanto, em muitas cidades, gestores públicos têm tomado uma decisão controversa — e covarde: proibir totalmente o uso dos paredões de som e similares, sob o pretexto de uma suposta recomendação do Ministério Público.
Não se trata aqui de defender o uso indiscriminado do som alto a qualquer hora e em qualquer lugar. É evidente que o bom senso e o respeito ao sossego público devem prevalecer, e que excessos devem ser coibidos. Mas proibir por completo, ignorando a importância social, econômica e cultural desses equipamentos nas festas populares, é um erro — e revela, sobretudo, uma postura autoritária e hipócrita.
Pior: muitos desses gestores que hoje posam de “defensores da ordem” foram, há menos de um ano, usuários entusiásticos dos mesmos paredões em suas campanhas eleitorais. Percorreram bairros, organizaram comícios e carreatas ao som ensurdecedor dos equipamentos que agora tratam como ameaça à paz pública. Quando servia aos seus interesses políticos, o som era permitido, incentivado e até aplaudido. Agora que o povo quer fazer festa, virou problema.
Essa incoerência revolta — e com razão. Os paredões são parte do modo de festejar de uma grande parcela da população. São símbolo de resistência cultural, de identidade local, de diversão acessível para quem, muitas vezes, não pode pagar por festas privadas e camarotes elitizados. O que está em jogo não é apenas o som, mas o direito do povo de ocupar os espaços públicos com sua cultura.
É claro que deve haver regulamentação, horários definidos, áreas delimitadas e penalidades para abusos. Mas proibir tudo, do jeito mais fácil e autoritário, é fugir da responsabilidade de governar com diálogo, planejamento e respeito às tradições. É mais fácil reprimir do que construir consenso. Mais fácil agradar elites barulhentas do que ouvir o povo.
Que os gestores deixem de lado a covardia e a conveniência política. Que tenham coragem de construir soluções equilibradas, que respeitem a cultura popular e o direito coletivo ao lazer. O São João é do povo — e não pode ser silenciado por decreto.
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