Em minha carreira de médica me deparo com algumas situações que me desanimam. Fui chamada para ser Plantonista no hospital de Ibicarai, que entre os médicos , tem uma péssima fama de pagar muito abaixo do valor normal , desvalorizando nosso trabalho . Ainda assim fui.
Por onde passo sou conhecida como “ chata” , mas somente por aqueles que fingem trabalhar , porque quem “ chega junto” , normalmente não me quer longe . Sou do tipo que faço meu trabalho com amor , humanizado , comprometida , não falto, não chego atrasada, trato pacientes como se fossem conhecidos . E cobro da secretaria de saúde atitudes. Além
Disso , como neurologista , trouxe pela primeira vez na história do município , um atendimento de Neurologia pelo SUS. Recebi várias visitas de vereadores nos meus plantões elogiando meu trabalho . Nunca na minha carreira fui demitida, pelo contrário, quando acho propostas melhores , deixo sempre uma porta aberta para retornar .
Fui orientada a trabalhar no município por uma missionária da igreja que é amiga da família, pelo fato do gestor e sua esposa também ser evangélicos . Mas me deparei com alguns absurdos que a população precisa saber . Me deparei com um
Salario vergonhoso .Andando aí do lado em st Cruz da vitória , floresta azul, itape, barro preto já podemos ver a discrepância nos valores dos salários . Me deparei com pacientes internatos por 60 a 90
Dias com apenas uma pendência para resolver seus problemas , um simples torpedo de oxigênio, ou às vezes um exame que custa 90 reais mas que ninguém resolve . Me deparei com paciente vítima de parada cardíaca , onde me envergonhei por estar naquele local , porque o desfibrilador não funcionava, o ambu para ventilar não funcionava , o tubo para entubar fora da validade , entre outros absurdos . Registrei tudo isso em livro de ocorrência , que provavelmente irá sumir a partir desse momento , mas eu tirei uma cópia , além de comunicar as diretorias de enfermagem e administrativa . Nada foi feito .
Em meio à tantas coisas realmente sérias , não prezando pela qualidade , mas sim pelo poder , a primeira dama esteve presente em meu último plantão . Por volta das 21hs, primeiro fez p guarda abrir as portas do fundo , já trancadas esse horário por questão de segurança , mas a mesma não queria entrar pela porta da frente e ser vista . Exigiu que a enfermeira fizesse um trabalho fora da obrigação Dela, que foi olhar a pressão da primeira dama dentro do seu carro . Neste momento fui informada que a mesma estava no hospital para ser atendida , desci para o consultório imediatamente para atende-la , porque é lá que atendemos TODOS os pacientes . Por questão de estrutura, e higiene . Haviam 2 únicos pacientes nesse momento aguardando . Aguardei A primeira dama Alessandra para o atendimento , quando fui informada que a mesma foi embora e se recusou a ser atendida no consultório onde as outras pessoas são atendidas.
Em toda minha carreira nunca vi nada parecido , atendo nos hospitais prefeitos , pai de prefeito , filhos , todos com muita humildade . No dia seguinte o prefeito ligou para o hospital para confirmar se neguei mesmo “ atendimento especial “ a primeira dama , e imediatamente emitiu minha demissão. Sem se preocupar com a qualidade do meu serviço , que pode ser provado pelos pacientes e equipe , mas sim em abuso de poder. Em conversa com a mesma , foi totalmente contraditoria, primeiro disse que estava com uma roupa inapropriada , porém estava acompanhada de dois homens , o secretário de financias e um outro que não conheço . Tenho certeza que a equipe e os dois únicos pacientes ali , não iriam olhar sua roupa . Depois mudou a conversa e disse que não foi para ser atendida por mim, mas foi esse o recado que a enfermeira me deu , e foi essa a pergunta que o prefeito no dia seguinte fez antes de me demitir .
Não fiquei revoltada com o emprego, apesar de gostar muito da equipe, mas é uma região onde não investe na saúde e torna praticamente impossível realizar um bom trabalho , mas me chateei com o absurdo que foi a situação , Ainda mais vindo de pessoas evangélicas , que há pouco tempo não tinham absolutamente nada . Mas já com poucos meses abusam
Do poder dessa forma ao invés de se preocupar com o que realmente é importante , como o material em casos de parada cardíaca que faltam, ou exames de valores irrisórios que mantém pacientes por meses internados. Não adianta visitar assentamentos , fazer um trabalho “ social “ , se na oportunidade que tem, abusa de um poder que aliás, não tem . Digo , que graças a Deus , prefeitura passa, uns 4 a 8 anos no máximo , mas eu, devido à todo meu estudo e esforço , permaneço médica e neurologista pelo resto da minha vida . E continuo a fazer meu trabalho , de forma particular no município . O caso será devidamente denunciado ao Ministério público.
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